quarta-feira, 20 de abril de 2011

O FENÔMENO RELIGIOSO E RELIGIÃO: UMA BREVE EXPOSIÇÃO

Para se entender a questão do fenômeno religioso, é preciso entender o ser humano na sua totalidade, compreendê-lo em suas dimensões biológica, psicológica, social e transcendental. Olhar o ser humano por apenas uma destas dimensões é fragmentá-lo, e essa perspectiva já está superada. O fenômeno religioso em sua dimensão transcendental não é isolado das outras dimensões, mas tecem um emaranhado complexo. O fenômeno religioso pode aparecer de diversas formas, nos diferentes lugares, durante o percurso da história da humanidade. Assim, na visão de Libânio, a religião pode ser considerada uma forma com a qual Deus se aproxima dos homens. Pois a religião está inserida como uma manifestação do fenômeno religioso.
 Segundo Edgar Morin, no seu livro Os sete saberes necessários à educação do futuro, quando se refere à questão da “noologia”, acredita que “desde o alvorecer da humanidade, encontra-se a noção de noosfera – a esfera das coisas do espírito –, com o surgimento dos mitos, dos deuses, e o extraordinário levante dos seres espirituais impulsionou e arrastou o Homo sapiens a delírios, massacres, crueldades, adorações, êxtases e sublimidades desconhecidas no mundo animal. Desde então, vivemos numa selva de mitos que enriquecem as culturas”. O ser humano não se compõe apenas nas questões racional e instintiva, mas completa-se na busca constante pela transcendência.
Podemos entender que as religiões nascem a partir das perguntas que o ser humano faz para situar-se dentro do contexto histórico, tentando explicar o presente e  procurando entender a origem e a direção futura de si mesmo, para responder a questões como: De onde vim? O que estou fazendo aqui? Para onde vou? Mas, a base essencial das religiões é situar-se no presente e dar sentido à existência humana.
Nesta perspectiva, cada religião quer oferecer uma orientação global, dando sentido às coisas. Ela cria valores e normas, constrói a realidade a fundo. Interfere no rumo da história. Como a religião realiza esta função? Quais são os elementos desta construção? Quais as suas possíveis representações e codificações? O que pretendem? São algumas das questões que se colocam quando nos propomos a analisar a religião, como também o fenômeno religioso.
 Os símbolos têm um grande papel em todas as atividades religiosas. Não há religião sem símbolos. Tudo pode tornar-se símbolo quando há um significado que vai além daquilo que a pessoa vê, ouve, sente, cheira ou toca. Eles (os símbolos) expressam significados que não podem ser percebidos diretamente pelos sentidos. E é justamente este mundo dos símbolos que nos causa problemas no encontro com outras religiões e culturas, porque o significado de cada símbolo está estreitamente relacionado com o todo da cultura de cada povo.
Numa sociedade em que as religiões estão em efervescência e em constante mudança, onde não impera mais as religiões tradicionais e institucionalizadas, é de fundamental importância compreender este fenômeno, evitando, assim, a absolutização da nossa experiência religiosa, clareando a nossa visão de homem, mulher, mundo, sociedade, igreja, de si mesmo, natureza, etc. em especial nesse mundo globalizado em que vivemos. O que serve para um amadurecimento, no tocante as questões relacionadas a convivência com o diferente.
Devemos perceber que somos frutos de uma cultura e que ela condiciona o nosso agir, nossa linguagem e o nosso modo de ser. Porém tentando sempre desmitificar os preconceitos para poder dialogar com o diferente, construindo o nosso saber sobre múltiplas religiões, tentando sempre não reproduzirmos dogmas que robotizam o agir e, conseqüentemente, inviabiliza o diálogo com outros grupos religiosos.
            O que entendemos por religião? Analisemos o conceito de religião partindo de dois sentidos, do real objetivo e do real subjetivo. No primeiro, religião é o conjunto de crenças, leis e ritos que visam um poder que o homem, atualmente, considera supremo, do qual se julga independente, com o qual pode entrar em relação pessoal e do qual pode obter favores. Sentido real subjetivo a religião é o reconhecimento pelo homem de sua dependência a um ser supremo pessoal, pela aceitação de várias crenças e observância de várias leis e ritos referentes a este(s) ser(es).
A religião é um fenômeno universal. Partindo desse princípio, podemos entender que não existem povos, por mais primitivos que sejam, sem religião, magia ou contato com o mistério.  Encontraram-se nestas sociedades duas esferas distintas: o sagrado e o profano; em outras palavras, o domínio da magia e religião como o da ciência (Malinowski). Não há época nem espaços humanos sem religião; não existe vácuo religioso; sua difusão é universal. Ou pode ser entendida, na visão de mais sociológica na pessoa de Émile Durkheim como “um sistema unificado de crenças e práticas relativas a coisas sagradas, isto é, coisas separadas e proibidas, crenças e práticas que unem numa única comunidade, chamada Igreja, todos os que a elas aderem”.
Porém, existem outras manifestações de pensamento e correntes filosóficas que negam a existência de um ser superior. Apesar da existência de diversas manifestações contra a religião, institucionalizada ou não, aparecem diversas delas e as mais tradicionais aparecem com nova roupagem, mostrando que esse fenômeno não para de crescer.
            Alguns pensadores passaram a criticar a religião, mas não estavam preocupados em tecer críticas a Deus, mas o que fazem d’Ele. O que acontecia de ruim não era culpa de Deus, mas sim dos homens. Dentre eles destacam-se: Auguste Comte (1798-1857), Karl Marx (1818-1883) e Sigmund Freud (1856-1939).
Auguste Comte, criador do positivismo, passou a criticar duramente a religião, mas criou uma. A “religião positivista”, que era uma religião sem Deus, a qual denominou de “religião da humanidade”, sendo o próprio fundador o sacerdote supremo. Muitos desses pensadores chegaram a fazer da própria ciência uma espécie de “religião”.
            A humanidade nunca deixou de lado a noção de Deus. No tocante ao conhecimento, gera-se um problema a ser resolvido: se não existe um ser superior, então quem chegou a ordenar todas as coisas existentes? Não existem leis? Tudo é fruto do acaso?
            E do lado moral, acontece o mesmo: se não existe o que muitos denominam um “Bem supremo”, um Deus que é justiça, amor, paz, verdade e caridade, ou cada um criando a sua própria moral, ou ela não existindo, o que é algo impossível, pode-se criar qualquer tipo de lei. Não nos esqueçamos que a moral nazista chegou a assassinar mais de 6 milhões de judeus! Um grande pensador, chamado Dostoievski assim comentou: “se Deus não existe, tudo é permitido”.

Prof. José Roberto de Vasconcelos